Pais que correm


O pai da minha amiga Vanessa corre com ela por aí, em treinos e  até em provas, participou do Beto Carrero. E ele corre bem, corre há muito tempo, antes de gps existir, quando era só calçar o tênis (sem essa de pisada neutra, supinada, pronada) e correr. Eu acho o máximo ele correr com ela; aliás, acho o máximo pais que correm com os filhos.
Li uma reportagem sobre isso na contra relógio, o pai que já correu diversas maratonas, e incentivou os filhos, que agora correm junto, como é importante esse estímulo, e mais uma forma de aproximar pais e filhos, de maneira altamente saudável.
Fora que deve ter a preparação para a corrida, a combinação prévia, pode vir um lanche depois, as impressões do treino, comemoração por terminar bem uma prova, tudo isso é comunicação e aproximação entre eles.
Logo se percebe que não é o meu caso. Meu pai não corre. Até alguns anos atrás, nem caminhava. Depois que ficou doente por conta do cigarro (sim, ele fumava), passou a caminhar,e  andava de bicicleta quando morava em cidade litorânea. Mas até então, realmente eu tinha um pai fumante e sedentário. Hoje em dia ele é bem ativo, caminha sempre que pode, nunca bebeu, e não fuma mais. E é um gênio, devo dizer, acho que a pessoa mais inteligente que conheço.
Embora ele não seja fã de esportes, sempre gostou que eu fizesse, apoiava o balé, incentivava muito a natação, e não fez pouco caso quando comecei a correr. Acho que ele não entendeu bem de onde saiu essa vontade de correr, mas não se opôs, nem me achou maluca (se achou, disfarçou bem). Isso porque no colégio eu fugia da educação física, gostava mesmo era da minha natação, mas nunca fui boa em esportes coletivos, me achava magrela e desajeitada (talvez porque eu fosse), e meu pai me deixava bem à vontade quanto a esse tipo de coisa, diferente da parte do estudo, em que era rigorosíssimo.
Um dia ele veio na minha casa ver o Arthur, e, enquanto o pequeno dormia, ele quis ver minhas medalhas de provas de corrida. Peguei todas e expliquei cada prova, o trajeto, como funciona uma prova, como me preparo, a alimentação, os treinos, a turma, e percebi que dali em diante tudo mudou.
Meu pai ficou orgulhoso de mim como corredora!! Acho que isso aconteceu também porque ele entendeu como é, viu como me faz bem, e agora ele fala para todo mundo as provas de que eu participo, quantos quilômetros são, quando ganho troféu, que eu faço meia maratona, mas maratona não, e então não sou maratonista...é muito legal, sinto ele participando mais da minha vida.
E isso prova que mesmo não tendo gente na família que corria ou corre, de gerações anteriores, é possível tomar gosto pela corrida.
Quando vejo o Rodrigo, organizador do nosso grupo de corrida, levando o filho dele de pouco mais de tres anos nas provas, acho o máximo, eles cruzam juntos a linha de chegada, o pequeno devidamente uniformizado, é sintonia total. Vi muitos pais cruzando a linha de chegada do Iron Man com seus filhos no colo, como meu amigo Márcio. Mais legal do que isso será quando não chegarem no colo, e sim correndo junto com os pais.
Eu tento fazer isso com o Arthur, mas mãe que corre é diferente. Pai que corre é o máximo, mãe que corre...foi correr. E tem sempre alguém que inclina a cabeça de lado e faz aquele "ah...deixou o pequeno em casa"...
E tem o fato de ser a mamãezinha, por enquanto. O Arthur tem quase a idade do filho do Rodrigo, mas quando vai me esperar no final de uma prova, mesmo tendo gritado "mamãe" quando eu estava passando, é só eu aparecer na frente dele que ele quer...colo!!! E estou eu lá, esbaforida, suada, cansada. Nada disso importa para o detentor do amor incondicional, embora diga :"Voce está suada, tem que secar".
Quando tem prova, ele fica animado, quando ganho troféu ele vai receber comigo, faz questão, mesmo que lá no pódio fique com vergonha das fotos, mas fica desfilando depois. E agora sempre pergunta se tem troféu além da medalha, ele não entendeu bem ainda o negócio...
E tem a camiseta da "currida", como ele chama. Para ele, é roupa de festa, a que ele escolhe para usar quando digo que temos um aniversário. Nessa hora que vejo que ele considera algo importante.
Então, com a mamãe é a corrida, e com o papai serão outras atividades, é bom demais envolver a família na corrida!

Comentários

  1. Também não tinha ninguém na família que corria, mas vejo que consegui contagiar alguns com minha mudança de vida... minha esposa começou a correr, alguns primos, meus filhos procuram praticar esportes também, a pequena sempre diz que quando for maior vai correr comigo, enfim é bom ver que nos tornamos exemplos positivos para os outros... Sem contar o número de novas amizades que fiz...

    Fábio Wehmuth
    www.42afrente@blogspot.com

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  2. Verdade! É muito bom quando percebemos que as pessoas querem seguir os nossos exemplos e esses exemplos são positivos!

    Rafael F. Pimentel.

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  3. ...em uma das suas postagens lembro ter dito algo a respeito do aquecimento...do atraso na largada, prejuízo...etc, etc. Na revista Runners/julho/2012, tem uma matéria (como turbinar o aquecimento para voar baixo na corrida), que diz para programar a finalização do aquecimento para 10 minutos antes da prova, e conclui: "Mas não precisa ficar neurótico com o cronômetro: o efetio dessa prática dura pelo menos 45 minutos, segundo o inglês Mark Burnley, doutor em fisiologia do exercício." Porém, cada um é cada um...

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  4. Parabéns! Você escreve muito bem no seu blog. Continue como você mesmo diz na chamada do seu blog - "firme". Correr é muito bom mesmo e em família melhor ainda. Comecei a correr por acaso. Ia às corridas fotografar minha esposa que já praticava. Então, fui a um treino com ela e lembro-me até hoje da minha primeira corrida - uma noturna em minha cidade - Cuiabá-MT - 6km em 42 minutos (pace de 7min/km)! Terminei a corrida igual pinto no lixo! Hoje após 2 anos e meio, 16kg mais magro acabo de completar minha primeira meia-maratona (Rio - Julho desse ano) em 1h54m - fiquei muito contente, considerando que por 20 anos fui fumante (e muito). Também criei um blog e comecei a escrever sobre minhas rotinas de corridas! Por enquanto está em construção, mas em breve voltarei a escrever nele. Anote: www.anotaramadatadamaratona.com.br. Valeu!

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    1. Que legal, adoro as estórias da corrida transformando a vida de alguém, e é sempre para melhor!

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  5. Olá Andréia,
    Linda mensagem sobre o envolvimento da família nessa atividade. Vem de encontro com o que pretendo fazer na minha primeira maratona, pretendo cruzar a linha de chegada, com meu pai. Bom, como ele mesmo diz, os 100 metros da parte dele estão garantidos. Minha família também se entusiasma com essa minha nova atividade, que é um vício. Parabéns pelo seu blog. Agora que localizei, serei um seguidor.
    Abraços e bons treinos,
    Marcelo

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    1. Ola, Marcelo, adorei! VOu contar para o meu pai, quem sabe ele se anima assim! Depois me conta como foi!

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