A Saga de um Goofy - o Cláudio

Claro que não sou eu o Pateta...Está muito longe o dia em que talvez eu tenha vontade de completar o Desafio. Mas acho sensacional quem faz, são meus heróis. Então conversei com o Claudinho, amigo de Floripa, casado com a Letícia, uma querida que conheço há muitos anos, e ele mostrou que tinha história para contar. Forrest Gump que sou eu, adorei, e ele mandou o post abaixo, que vale muito a pena conferir, não só pela história do desafio em si, mas para aprender sobre preparação, hidratação, suplementação.

Parabéns, Cláudio, não só pela conquista, mas pela disciplina em estabelecer um objetivo e manter o foco para alcança-lo.

"Em 2011, numa das comemorações em família na casa de uma prima, foi onde tudo começou. O marido desta prima (um Goofy) apresentava para a minha filha as 3 medalhas do Desafio do Pateta. E num tom de brincadeira falou para ela – Pede pro Papai ir buscar para você estas 3 medalhas. Os olhos dela brilharam e com os seus 5 anos incompletos, não precisou nem pedir - O Desafio estava aceito.
Para quem não conhece, o Desafio do Pateta ou Goofy´s Challenge, é uma prova que ocorre dentro dos parques da Disney no mês de janeiro. No sábado tem a Meia Maratona do Pato Donald e no domingo a Maratona do Mickey. Quem completa os 63km ganha a medalha especial do Pateta. São 3 lindas medalhas!
Escolhemos 2013 por ser a comemoração dos 20 anos da Maratona do Mickey e para termos tempo de preparar toda a logística – inscrição, hotéis, transporte,... Digo escolhemos porque além de mim, minha prima Hursula, seu marido Teinho e mais alguns amigos também toparam o desafio.
O ano de 2011 passou voando, e durante o primeiro semestre de 2012 a cabeça já estava em janeiro de 2013. No mês de julho, tudo seguia conforme o planejado - passagem comprada, hotéis reservados, e iniciavam os treinos específicos. Ah, os treinos, fundamentais para encarar este desafio. Corridas as 3as, 5as, sábados e domingos. Treinos mais curtos durante a semana e um longão no sábado para a Meia e um no domingo para a Maratona. As distâncias iam aumentando e para fugir da monotonia, buscávamos lugares diferentes para correr – Beira Mar Norte, Beira Mar Sul, Jurerê, Campeche, Morro das Pedras, Armação, Rio Vermelho,... Foram quase 1.000km percorridos em 6 meses de treino. Além dos treinos de corrida, eu fazia Pilates 2 vezes por semana e tinha uma dieta balanceada, mas sem deixar de tomar a minha cervejinha é claro. Tudo isso com muita compreensão e apoio da esposa Leticia e da filha Taís.
Mas nem tudo foram flores nestes 6 meses de preparação. Com o volume de treino começaram a surgir dores que eu não conhecia nesta minha vida esportiva. O tendão de Aquiles e o joelho avisaram que existiam. Com a imunidade baixa, até um princípio de bronquite apareceu no último mês. Outro grande desafio grande para mim, em função das datas da prova, foi conciliar a vida esportiva com as festas de final de ano – Natal e Reveillon – sempre regados a muita comida e bebida. O aumento de peso em cima da prova foi inevitável.
Nosso grupo chegou nos EUA no dia 07 e as corridas ocorreriam nos dias 12 e 13. Cada um de nós com os seus objetivos a serem cumpridos em cada uma das provas. Na minha cabeça, em função dos treinos, eu tinha como objetivo terminar a Meia Maratona abaixo de 2 horas e a Maratona abaixo de 4 horas. Esta seria a minha primeira Maratona e por ser junto com uma Meia tinha um peso ainda maior.
No dia 12 acordamos às 03:00s da manhã para se preparar para a largada da Meia. Alimentação adequada, uniforme vestido e às 3:45hs pegamos o ônibus do hotel que nos levou para a prova. Para a esta prova levei 2 sachês de gel para serem consumidos e 1 de reserva. A hidratação foi por conta dos postos da prova. O ônibus parou e um mar de gente surgiu, mas tudo funcionando perfeitamente - trânsito, guarda-volumes, banheiros e a temperatura adequada (diferente dos nos anos anteriores que fez muito frio). E o principal de tudo, a organização de largada por currais. Locais separando os corredores em grupos com o mesmo ritmo de prova. Quem já fez São Silvestre ou outra prova com muita gente sabe da dificuldade que é correr os primeiros metros.
Com a contagem regressiva do Pato Donald, largamos às 5:30hs no Epcot Center. A prova é uma festa, chega a ser impressionante a quantidade de pessoas nas ruas torcendo e incentivando àquela hora da manhã. Os personagens Disney posicionados ao longo do percurso, posando com os atletas menos preocupados com performance para uma foto, são uma diversão. Além disso, fanfarras tocando e incentivando os atletas, e o público gritando “go go...” - não tem como não curtir uma prova dessas. Seguimos em direção ao Magic Kingdom e cruzamos o castelo da Cinderela ainda iluminado. Os trechos por dentro dos parques são demais. Retornamos em direção ao Epcot para fecharmos a prova em 1h:50min – 1/3 do desafio cumprido e dentro do tempo planejado. Os postos de hidratação e os postos médicos dão todo o suporte necessário. Muito bom. Vale ressaltar também a apresentação de um Coral na entrada do Epcot anunciando a chegada.
Ao final da prova iniciou um complicador para o domingo. Problemas intestinais durante a tarde/noite me levaram a desidratar. Fiz banheira de gelo para recuperar a musculatura e tive até um princípio de hipotermia . Foi um final de sábado complicado e preocupante.
No domingo, acordei mais cedo que o normal e tomei meu café - comi um gel para ver como o meu organismo ia se comportar com esta alimentação. E ele reagiu bem, o que me deixou mais tranquilo para a prova. Para a Maratona decidi levar o meu cinto de hidratação com isotônico e água, e 5 sachês de gel para alimentação e 1 de reserva. Vale ressaltar que a organização também distribui gel em alguns postos de hidratação.
Fizemos toda a logística novamente e por volta das 05:00hs já estávamos no curral A para mais uma largada. Desta vez o Mickey Mouse foi o dono da festa e com os fogos de artifício estourando iniciamos os 42km. Largamos no Epcot Center e seguimos em direção ao Magic Kingdom novamente, dessa vez com um Pace um pouco mais lento que o dia anterior, mas mesmo assim abaixo de 5:25/km. Fomos comendo a quilometragem, nos divertindo com os personagens e com as fanfarras e mais uma vez, no km9 passamos por dentro do Castelo da Cinderela ainda iluminado. Saímos deste parque e fomos descendo, passando por dentro do Exotic Driving Experience, um autódromo da Disney onde havia uma exposição de carros para nos entreter. Neste autódromo teve um pit stop para um xixizinho – sem comprometer o tempo de prova. Seguimos pelo percurso até chegarmos ao próximo parque. Os animais pelo caminho e o batuque africano na entrada anunciavam o Animal Kingdom – já estávamos no km19 aproximadamente. Foi uma passagem rápida e após deixarmos a Montanha Russa Everest para trás, fomos em direção ESPN Wide World of Sports Complex rodando muito bem, com Pace para fechar a prova em 3h:50min aproximadamente. Foi aí, neste local, que começou o meu martírio. Ao entrarmos na pista de atletismo, no km30 aproximadamente, baixou a minha pressão, fiquei tonto. A minha inexperiência em maratonas falou mais alto - primeiro por não ter levado algo salgado para comer, segundo por não ter comentado com os meus colegas sobre a tontura (eles tinham o “sal” para eu comer) e terceiro por ter parado e iniciado uma caminhada. Em menos de um minuto de caminhada, várias câimbras me atacaram - no quadríceps, na panturrilha, no adutor, no braço que eu usava para massagear, enfim em tudo. A desidratação do dia anterior estava mostrando os seus sinais, eu não conseguia nem caminhar. Travei. Nesse momento veio o primeiro choro e o medo de não conseguir terminar a prova, pois ainda faltavam 12km. Não podia me decepcionar e nem decepcionar a minha família que estava na chegada me esperando. Aos poucos fui tentando alongar, comecei caminhar bem devagar, controlando os movimentos, até que cheguei num posto de hidratação. Além do isotônico, me alimentei com banana. Caminhei um pouco mais e cheguei num posto médico, onde era oferecido um gel analgésico e refrescante para passar nas pernas, que me permitiu caminhar um pouco mais rápido. Encontrei outro brasileiro, pateta e também com câimbras, e fomos caminhando juntos. Nesse momento cheguei a bater uma foto com o Mickey e sua turma para tentar relaxar um pouco. Era só tentar forçar um pouco, voltar a correr, e as câimbras voltavam junto - e com elas o choro também. Cheguei ao posto médico seguinte, fiz uma nova sessão de massagem com o gel nas pernas, me despedi do brasileiro e comecei a trotar superando todas as dores. Eu tinha que chegar. Fui de posto médico em posto médico aplicando este gel. Não lembro bem dos detalhes da passagem pelo Hollywood Studios, mas saindo dele, fiquei muito feliz ao avistar a bola prateada, símbolo do Epcot novamente. Lá estava a chegada, lá estava o meu objetivo. O Coral, na entrada do parque, fez o choro aumentar. Os últimos metros foram de muita emoção, uma mescla de alegria com choro, foi demais. Fechei a prova em 4hs:40min. Totalmente fora da meta, mas muito feliz por ainda ter conseguido chegar. Minha primeira maratona, meu primeiro Desafio do Pateta. Eu era um Goofy.
Com o desafio cumprido, as medalhas no peito da filha e muito analgésico para aliviar as dores, iniciou-se uma nova fase da viagem - pura diversão.
Os aprendizados foram muitos durante a Maratona e ao longo destes meses de treinamento e preparação. Servirão e muito para a minha vida pessoal, profissional e esportiva.
Esta é uma prova que pretendo fazer novamente, talvez em 2015 ou 2016, mas antes, outros desafios virão.

Antes de finalizar, gostaria de agradecer a Deus pela minha saúde e pela saúde dos meus. Obrigado a minha família pela compreensão e apoio, e aos meus amigos de corrida pelos incentivos.

Um abraço do Pateta com muito orgulho - Claudio Vasques de Souza"

Comentários

  1. Muito bom o relato. Incrível. Parabéns ao Claudio Vasques, por essa linda e inspiradora a conquista.

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  2. Simplesmente demais essa sua descrição para conquistou as famosas medalhas!!, concordo que a filha não precisa nem pedir as medalhas, um simples olhar já diz e tudo e esse olhar que nos leva até o limite ou mais para conquista-las. A emoção é apenas uma consequência de tudo isso....agora tais precisando de um cardiologista para ajustar esse coração ai hehehehehe

    Parabéns!!! você merece!!
    Abs.

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  3. Foi realmente muito emocionante Diogo. Muito obrigado. Abraço.

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