A persistência da (falta de) memória: Correr em São José dá sorte?

Persistência da Memória é um quadro do Salvador Dali, que tem o relógio derretido. Amo. Tanto que tenho a tattoo no punho. Adoro olhar e lembrar que o tempo flui, derrete, sem controle, e nos sobra aproveitá-lo da melhor maneira. Inclusive na corrida. A gente planeja uma prova, treina para ela e, quando se dá conta, chegou o dia. E no dia seguinte, novos planos...como é fluido esse tal de tempo...


Demais, né?

Eu já corri em São José algumas vezes. Criaram a beira mar de São José, uma via super legal, com uma vista interessante, asfalto novo, com um centro multiuso. Ótimo. Mas não tem nem 5km ali sem precisar entrar na avenida da cidade, aquela cheia de carros e vida normal. Então o percurso não é todo super fofo. Fui olhar meus posts de outras provas em São José,  já falei do percurso, e percebi que é sempre o mesmo. O calor também é sempre o mesmo. E aí eu vou lá, reclamo do calor e do percurso (porque em todas as provas de 10km são duas voltas), e volto a fazer. Ô gente doida. A real é que é uma prova prática, conhecida, este ano foi bem barato, e acho que minha memória vai se alterando ao longo do ano. Ouuuu eu quero vingança hahahahaha. Não sei. Mas uma coisa já notei: minhas lembranças das provas vão se alterando à medida em que o tempo passa, porque eu passo a ver aquela prova, com suas dificuldades, superações, conquistas, com a nova perspectiva, que só o tempo pode trazer. Vou ficando também mais generosa comigo mesma. Quando acaba a prova, ainda estou muito exigente em relação à minha expectativa, só depois percebo que podia ter visto de forma diferente. Vantagens de ter blog: eu leio o post que escrevi, e tento identificar o sentimento que me traz. Geralmente o sentimento é mais apaziguador...
Ano passado eu estava no ápice da minha dieta radical, bem fraca, mal conseguia correr porque faltava comida mesmo (já passou). Fui para terminar a prova, e nem teve dignidade. Passei bem mal. Não conta. Em 2016 eu fiz em 52 minutos o percurso, fiquei bem frustrada porque me preparei para fazer melhor, mas teve calor e teve preguiça. Antes disso, teve uma prova de aniversário da cidade com outro organizador, que largou às 9h, e todo mundo ficou mal, lembro que tomei caldo de cana quando acabou (foi a única coisa que me impediu de desmaiar), queria ir embora e ainda premiei, porque foi ruim para todas.
Ano passado fiz o 15k de São José, e fui muito bem, fiquei super feliz, falei aqui dessa prova incrível e, claro, quente. 
Então, vendo a prova este ano, me inscrevi, e depois que percebi o horário de largada: 18h. Achei que poderia ser boa ideia, que ia refrescar durante a prova, mas isso não aconteceu. Não mesmo.
O kit foi retirado no Angeloni de Capoeiras, e para mim foi meio ruim porque eu fui sozinha de BC, só para correr. A entrega era até às 15h, ou seja, faltava muito para a largada, impossível ficar por ali esperando. Antes da largada só entregavam chip e número, e eu paguei pelo kit, que no final das contas era só a camiseta, mas parece ser boa, não usei ainda porque verão, né gente, só uso regata para correr (pelo preço que paguei, está ótimo). 
A organização da Corre Brasil está de parabéns, a largada foi pontual (atraso de dois minutos, nada demais), embora minha opinião continue a mesma, de que a meia e os 10km e 5km deveriam ter horários diferentes de largada (mas entendo a dificuldade logística), tinha bastante água no percurso (pelo menos dos 10k), marcação precisa, trânsito controlado, sem estresse para os corredores (só para os motoristas, que acho que não foram suficientemente avisados). Este ano cheguei cedo (depois de pegar o kit fui tomar um café no Mercado São Jorge, lááááá no Parque São Jorge, em Floripa, e ainda voltei cedo) e estacionei em um lugar bom , pensando em facilitar na hora de ir embora. No final da prova,  isotônico de qualidade e frutas, e a água sempre gelada, valorizei. 
O que realmente quero elogiar é a quantidade de banheiros químicos. Depois da lástima da meia maratona de BC, com um banheiro na transição das duplas, a empresa se redimiu, com muitos  banheiros para mulheres, e com o plus da pia com água e sabonete, sensacional. Sim, tinha pia química kkkk. Ah, acabou a água  no final da prova, mas aí a gente já está podre mesmo.
A largada foi triste, mas a culpa não é da organização. Verdade que o número de corredores aumentou absurdamente este ano, de pouco mais de 1000 passou para mais de 3000, e o perfil é basicamente o mesmo: para os 21km, pessoal que está treinando forte o verão todo, muitos farão maratona em junho, poucos estreantes na distância porque é uma prova de início de ano, não é plana, e no calor. Para os 10km, tem quem está aumentando a distância, os especialistas em 10km, e quem ainda está no início do ano, como eu, tentando melhorar o tempo.  Nos 5km, tem o povo mega rápido de um lado e, de outro, muitos iniciantes. Que largam lá na frente. Em grupos. Amiguchas de braços dados ocupando três metros, em pace lentinho. Pessoas que correm 500m como se fossem o Bolt e caminham dali em diante, no primeiro km, tendo largado muito na frente, e caminhando no meio, não no canto, não ao lado. Eu amo iniciantes. Mesmo. Mulheres que Correm foi idealizada para iniciantes. E por isso  digo aos e às iniciantes: não larguem na frente. Vocês vão quebrar, serão atropelados, xingados, e ficarão frustrados na medida em que todo mundo for passando. Fora isso, desculpa, gente, mas atrapalha. Os mais velozes largam na frente. É assim em todas as provas grandes no mundo. Largada por pace, em baias, como nas provas da Ativo. Por ondas, como em NY. E não estou falando de mim, eu sou a que larga bem no meio, a amadora mediana. Mas para quem larga para ganhar, o que vale é tempo bruto, e não o líquido. E ter que ficar costurando é muito ruim. Fica a dica. 
Nesta prova especificamente, tinha vento contra no primeiro km, e uma curva com aclive. Depois era o bafo quente da avenida principal de São José, mas planinho, e no final uma curva com declive e depois...aclive, e segue no asfalto bafo com vento contra de novo. Tá, talvez melhor do que de manhã, com sol castigando. A foto mostra que havia um final de tarde lindo (não me recordo, estava morrendo), e eu sofri demais no ano passado e no retrasado, sempre deu sol. Mas a umidade é que me quebra. Fui bem preparada, treinadinha (para início do ano), dieta bonita de atleta disciplinada, tudo certo. Fui para baixar de 47'. Quando virei a primeira volta já vi que não ia dar. A largada me confundiu, e o 6ºkm com o mesmo vento contra, aquela super animação de segunda volta (sqn), dei uma quebradinha. Fiz força a prova toda. Mesmo. A vantagem da segunda volta é que o pessoal dos 5km não vem junto, fica menos gente, e dá para saber como a gente está. E eu ultrapassei muito mais do que fui ultrapassada, especialmente por meninas, mas estava tão focada em mim mesma (como acho que deve ser), que não percebi que estava bem colocada. Inclusive, assim como estava duro para mim, estava para outras, que me passaram na primeira volta e depois eu peguei, só mantendo ritmo, sem alterar, porque vi que não sobrava. Ainda consegui fazer o último km em um belo sprint, é para isso que venho treinando, foi a melhor volta da prova. Vocês podem ver minha alegria ao ver o pórtico de chegada.
Tênis escolhido: Saucony Kinvara 8, porque eram 10km. Short mil bolsos Vivian Bogus, para a água gelada sem precisar parar para pegar copo todas as vezes, e para o gel que eu tomo para o gás da segunda metade da prova (precisar não precisa, mas para performance esse glicogênio faz diferença).
Fui para a fila da massagem, porque cheguei cedo, e eis que me chamam da cronometragem. Legal, perdi o lugar na fila. Fui lá, era para conferir que eu fiz 10km, porque uma menina de 5km chegou meio junto. Conferido, dei um beijo suado na bochecha do querido Giovanni Martinello, que estava narrando a prova, e perguntei se podia então pegar meu caminho para BC, tinha jantar com as famílias da antiga escolinha do Arthur e estava brava por ter perdido meu lugar na fila da massagem. "Melhor não", disse o cara da cronometragem, "porque você ficou em quarto". Isso é para a gente ver que quando está ruim para nós, pode estar ruim para mais gente. Quarto geral, nos 10km!!!! Naquele monte de gente!!! Nem liguei para  massagem, quem precisa?
Saí dali dando pulinhos e não encontrei ninguém conhecido. Impressionante. Não queria me mostrar, mas queria compartilhar...daí fui buscar minhas coisas no guarda volumes e as meninas eram tão simpáticas que contei que tinha ficado em 4º, e agradeço a elas por terem sido tão fofas!! Podiam ter me achado uma otária (talvez tenham, mas disfarçaram super bem).
Troquei de roupa e encontrei a rápida Kelin (que deu entrevista no blog), que também estava frustrada com o tempo dela. Nem vou falar qual era, só que ela ganhou a prova na distância de 10km. 
A premiação não demorou para começar, e foi bem agilizada, só achei injusto não ganhar aquele monte de café da Três Corações que só ganharam as três primeiras colocadas...pô.
Agora, tem vantagem em o mesmo percurso (tipo circuito estações, que tem SP, Curitiba, etc) mais de uma vez, porque é assim que você pode avaliar seu progresso, ou a falta dele.
E o negócio é o seguinte: só evoluí. Em 2016, que estava bem, publiquei aqui minha frustração pelo tempo de 52 minutos. E agora foram 48'21 líquidos (para a premiação valeu o bruto, 48'50), ou seja, está reclamando do que, minha filha? De nada. Foi lindo. baixar 4 minutos na distância é maravilhoso, ainda mais porque não fiquei mais nova, né?
Às vezes a memória trai a gente. E fazer a prova com pace médio de 4'49 é muito bom, é só lembrar de como foram os outros anos.  
Publiquei no instagram a foto bem sofrida, porque foi o que senti a maior parte do tempo. Mas o resultado é esse aqui, com alegria, e fazendo o que gosto. 



E justamente pela alegria que me dá, convido todo mundo a participar do treino virtual Corra com Respeito, das Mulheres que Correm. Você terá dos dias 16 a 22 de abril para correr o total de 12km, nos dias que quiser, como quiser, podendo alternar com caminhada. Recebe o kit em casa (porque sim, tem kit), já com medalha pela confiança, e corre por uma causa, a violência contra a mulher. R$ 10,00 de cada inscrição vão para a Casa das Anas, da ong Vidas Recicladas. É uma casa em BC que atende mulheres vítimas de violência. Nós acreditamos que correr e mostrar o poder que isso dá é a melhor resposta, e está ao alcance de todos. Desafie-se e desafie seus amigos. Esse treino, por ser virtual, está aberto para mulheres e homens. As inscrições vão até 23 de março para quem precisa receber o kit pelos correios (no regulamento tem a possibilidade de retirada pessoal em dois lugares), e é mais do que caridade, é ação de verdade. 
Como se não bastasse, a camiseta ficou linda e é de uma qualidade incrível. Nossos agradecimentos à sempre parceira Vida Esportiva (Hardt), loja especializada em itens de corrida e com especialistas para te ajudar a escolher o tênis, e a nutri Kátia Diesckmann, que já esteve aqui no blog também, além da Mendofit (melhor pasta de amendoim que você vai experimentar na vida), D Vitaminas Suplementos (de Blumenau, com entrega e descontos), e Feel Clean, com seus lencinhos super práticos (o do kit é repelente de insetos, funciona).
Vejam no instagram @mulheresquecorrem, nos destaques tem stories em que explico como funciona, e todas as informações necessárias. 
Vem conosco!!

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