Sandálias da Humildade e outros corres

A sumida voltou. Estou há mais de mês para falar de uma prova incrível que fiz, que foi a subida do Morro da Abissínia. Ah, você nunca ouviu falar desse morro? Tudo bem. Eu só sabia que ficava em Rodeio, cidade pequeninha, que eu corri ano passado 5km, lembram? Corri a cidade toda, praticamente. E o organizador do Desafio do Morro da Abissínia, Carlos Morastoni, é meio parente do meu marido, um cara super legal, treinador de atletas incríveis, inclusive olímpicos, de Timbó e Rodeio para o mundo!
E ele me falou da prova, que consiste basicamente em subir um morro até o topo, onde tem, adivinhem o que? uma igreja, claro, e descer. 6km de subida, 6km de descida, mais 2km planos, um de ida e um de volta. Diogo, o treinador,  conhece a prova e deu a ideia de eu fazer em dupla com o Joslei, atleta top da Fundação. Logo avisei que eu subiria, descida já fiz Urubici para nunca mais cair nessa de novo.
Só que ninguém te prepara para o que tem lá. São os 6km mais longos da vida de qualquer pessoa. Porque só sobe. Não tem uma parte meio plana para aliviar, uma leve descida (em Urubici tem), é subida em curva na estrada de chão! Não dá para saber o que vem depois da curva, e quando via, era mais subida. 
Ao longo do percurso eram dois os pensamentos:"como eu vim parar aqui?" e "eu não corro nada". Porque eu corria, sim, no começo moendo as panturrilhas, depois moendo glúteos e até músculos desconhecidos doíam no dia seguinte. Mas a corrida é de passos curtinhos, e tinha que alternar com caminhada de passos largos, porque realmente era íngreme e especialmente contínua, e o negócio é que passavam uns caras, inclusive de certa idade, correndo sem parar, e conversando!!!!!
Era nessa hora que eu me achava uma fraude completa e absoluta. Tipo eu não corro, sou só uma paquita. Quando faltavam uns dois km eu estava me acostumando à dificuldade, e queria chegar ao topo, embora achasse naquele momento que seria a última pessoa a chegar, mesmo correndo como pudesse, que foi o que fiz no km final.
O visual pelo caminho é muito fofo, é bucólico e a gente vê a cidade abaixo, já que não é trilha, é estrada mesmo, então essa parte tem mais a ver comigo, não queria uma trilha fechada, nem nada que parecesse uma aventura. Não é. Tem até a via crucis, com os quadros, descobri que é feita uma procissão ali. A prova foi bem organizada, e muita gente se conhecia, a prova é meio tradicional. 
Você pode pensar: ela está falando de 7km? sim, estou. O Gustavo Maia, do Programa Fôlego, foi fazer Ilha da Madeira, 100km, e o Daniel Oliveira corre 24 horas. Phodásticos. Pois é, cada um com seu desafio. E para cada desafio, um treino, uma vida, uma disponibilidade.
Sempre falo que corredor não se mede pela distância, e sim para o que ele se propõe, seu desafio pessoal. Tem quem queira fazer a milha mais rápida do mundo, tem que queira correr 200km no tempo que der, na montanha mais alta. E tudo é válido e maravilhoso, se for o objetivo a alcançar.
Naquele momento eu estava bem forte,  correndo bem e feliz, e subir dá um sentimento de querer alcançar o topo, não importa onde ele esteja. Meu negócio é tentar ser veloz nas distâncias que gosto, e eventualmente encarar um desafio diferente, saindo totalmente da zona de conforto, como esse, para justamente lembrar que falta muito, e calçar sandálias da humildade. Não tinha atleta famoso, dos que estão sempre nas provas mais visadas, tinha corredores da região de Indaial, Timbó, e eram muito bons!!
Quando eu cheguei ao topo, percebi que não tinha ido tão mal, porque tinha muita gente lá em cima esperando o parceiro. O que acontece é que nas duplas mistas, geralmente é o menino que sobe, e eu descobri que tinha chegado na frente de muitos meninos. Eles foram chegando e trocando, e aí, minha gente, não tinha como comparar o Joslei descendo, para menos de 3' o km, com as meninas. E ele já começou a descer antes, então só dava ele. 
Legenda: volta de largada (uma volta na pista antes de ir para a rua), em que estamos super correndo juntos, parece realmente que corro como ele. E sim, ele subiu também, correndo, me esperou, e depois desceu para vencer. 

Eu vi que teria um ônibus para levar os atletas de volta à largada, mas só depois que todos subissem. Estava bem friozinho, e no topo do morro no meio da natureza, bem mais frio. O suor foi esfriando, e fui ficando com frio. Não ia dar para esperar. Decidi descer correndo, de boa, e se o ônibus me alcançasse, pegaria carona dali em diante. E fui. Fui tão solta, tão já sem compromisso, só para soltar, que me senti super bem, e ainda puxei um estreante, que estava fazendo os 14km (subida e descida), como a primeira prova da vida (desavisadooooo). Até ajudei a recolher copos vazios de água, que, diga-se, era abundante. Resultado: cheguei com o ônibus hahahaha. E o Joslei: ah, chegou,  já podia ter tomado banho, lanchado, tudo...e ficamos em primeiro lugar!!! Foi muito legal, e o principal foi ver pessoas tão diferentes, de tipos físicos tão diversos, fazendo a prova, e muito bem feita, cada um nos seus limites. Percebi o quanto tenho para aprender na corrida, como é importante se conhecer, conhecer os percursos, encarar os desafios...na metade eu estava bem infeliz, e de repente me dei conta de que era aquilo mesmo, e tinha que ir até o topo, ué. Correndo, inclusive, era mais rápido! E ligou uma chave e eu fui. E aviso que agora que já sei o que me espera, ano que vem quero fazer todo o percurso sozinha oficialmente. 


Pódio montado na cancha de bocha!! 

Quero dizer que não importa o tamanho do seu desafio, porque você tem que se propor ao que pode fazer no momento, e saber a hora certa para cada coisa. Não tem grana para uma bicicleta, por exemplo, nem para a suplementação toda, talvez o triathlon não seja para você no momento. Mudou de emprego e agora não tem rotina de treinos definida para fazer longões? Talvez seja o caso de ficar com 10 a 15km como alvo no momento, e não a maratona. Voltando da gravidez? A velocidade vai ter que esperar...Para mim, naquele momento, fazer 7km sendo 6 de subida dura, foi um aprendizado muito grande, um baita desafio. E me deu segurança para fazer as provas planas de asfalto. Lembrando que tem muito para fazer nesse mundão da corrida ainda...
Tanto que fui para a meia maratona de BC mais confiante, tendo o morro da rainha. Eu e Simone fomos de novo em dupla, pela decisão consciente de não fazer uma meia maratona com duas subidas (ida e volta da Rainha). Quem gosta de fazer tempo pode se frustrar com o percurso. Assim, a expectativa cai. 
A Corre Brasil está cada vez melhor na organização das provas, e dessa vez tinha bastante banheiro, crítica do ano passado. Eu larguei, e não olhei nada antes, de modo que achei que ia correr 10,5km, quando na verdade o primeiro corredor corria mais de 11km, e me disseram que isso foi avisado. O cérebro é a arma mais poderosa que temos, para o bem e para o mal, e quando eu estava fechando 10km, fiz aquele sprint de quem vai correr mais 500m, e não chegou a troca. Foi a treva, difícil tirar forças para fazer mais...quanto? eu não sabia, não calculei, então quando entreguei para a Simone estava muito enfurecida. Mas o restante foi como combinado, com um dia gostoso para correr, e nuvens na vez da Simone, para ela sofrer menos de calor. Muita hidratação, uma camiseta de poliamida de qualidade e bonita, entrega de kits organizada. A largada é que está cada vez mais confusa, mesmo com os 5km largando depois, porque ficou uma prova muito grande, 4000 atletas se espremendo em uma pista da Av. Atlântica, é difícil. Percurso bem aferido, e bonito, como BC e Praia Brava sabem ser.


Fiz um tempo que eu gostei, e este ano o nível estava mais alto, caímos algumas posições fazendo tempo praticamente idêntico ao do ano passado, quando ficamos fora do pódio por uma colocação. 
Eu planejei subir a Rainha correndo, mas deu uma preguiça e eu comecei a caminhar. Mal reduzi, e uma corredora anjo, dessas que aparecem  na hora certa, veio ao meu lado e disse: vamos, vamos. Curtinho e confiante (o passo), curtinho e confiante. E assim fomos juntas até o topo do morro. Não a encontrei no final, mas temos essa foto, e acho que essa foi a parte mais legal da prova. 
Podem facilmente perceber que ela está bem mais animada do que eu...


E essa é a foto da felicidade de quem já viu sua parceira vindo, ligeira e plena, e é só chegar!!

Ainda tenho que contar do Treino Virtual Corra com Respeito, da night run em BH e avaliações de tênis, aiaiai! Estava com muito trabalho e muitas aulas, agora deu uma aliviada, preparem-se para literalmente overposting! Domingo tem maratona do Rio, com a meia e a family run de 6km, e também maratona de Floripa, a nova distância da prova da O2, com largada na beiramar continental. Boraaaaa!!





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