Mães que correm

Mães correm. Mesmo as que não treinam... E as que treinam ainda correm para conseguir treinar. Este é um post para mães. Sei que muitas pessoas passam por dificuldades imensas para conseguir tempo e disposição para treinar, trabalham muito, ainda estudam depois, não têm apoio, e rendo minhas homenagens a todos que conseguem apesar dos problemas. Mas hoje quero falar das mães.
Muitas mulheres que conheço começaram a correr justamente quando se tornaram mães, para perder os quilinhos que sobraram da gestação. Só que vão pegando gosto, e mesmo emagrecendo (ou não), várias não querem mais parar, seja pela estética, pelos amigos que fez, pelo momento de "solidão" (ah, adoro uma solidão).
Só que o treino de uma mãe, com todo o respeito aos homens e às mulheres sem filhos, é diferente. Você pode programar o seu treino para as oito da manhã, separar toda a roupa, ir dormir cedo e aí...o filho tosse a noite toda, tem pesadelo e te chama, ou precisa ir ao banheiro e chama, enfim, aquela noite bem dormida, de oito horas, que o treinador, o médico, a nutricionista adoram dizer que é essencial para o treino render, simplesmente não te pertence. Com sorte, ainda é possível pelo menos ir treinar, eba!!
Em outros dias, você nem consegue ir, o único horário que teria você tem que usar para levar a criança para o dentista, para vacina, para cortar o cabelo... paciência. Amanhã a gente tenta de novo. Não pode é desistir, nem abandonar a semana toda porque o primeiro dia não deu certo. E sem ficar pensando que o treino perdido vai comprometer toda a planilha. Bola para frente.
E a culpa, que toma conta quando a gente está prontinha para sair e a criaturinha te olha e diz: "você vai mesmo, mamãe?... queria tanto que você ficasse brincando comigo... estou com saudades...". Geralmente não chega a paralisar, mas dá aquela coçadinha... tem gente que cede.
Eu prefiro correr de manhã, porque depois do trabalho geralmente é meu tempo com meu filho. O Péricles corre no final do dia, depois do expediente, então dá tudo certo.
Eu acho importantíssimo a mãe ter uma parte da vida que é só dela. Pode ser ioga, pode ser uma aula de crochê, café com as amigas (regular, quero dizer). Fazer a unha, pintar cabelo, isso não conta, porque já virou obrigação se cuidar desse jeito. A minha parte é correr. É algo que faço por mim, é o meu tempo, e enquanto estou correndo geralmente os pensamentos são bem variados, mas fogem ao aspecto familiar, e isso é bom.
Correr me faz feliz, muito feliz. Pela endorfina, mas também por achar que me ajuda a ficar em forma (ou tentar), a ficar mais bonita, a me concentrar, e exatamente por ser um momento meu. E se eu estou mais feliz, acho que sou uma mãe melhor, porque não sinto faltar um pedaço de mim, do que eu sou.
Não quero esquecer quem eu sou, e não sou só mãe. Ser mãe é uma parte maravilhosa, sensacional, essencial, de quem eu sou. Mas não é o que me define. Sei que muitas mães se definem por ser mães, e respeito, mas sei também que eu não conseguiria ser assim. Gostei de voltar a trabalhar quando acabou a licença maternidade, por exemplo. Não, não fiquei arrasada e não fico até hoje em levar o Arthur para a escolinha, sei que está bem cuidado,  vai se divertir e aprender a ser um bom cidadão, acima de tudo.
Então procuro estabelecer a corrida como um compromisso, importante como trabalhar, cuidar do filho e ficar com o marido. Faz parte das minhas atribuições, e não posso deixar de correr para ir ao supermercado, por exemplo, isso não é prioridade. Internet está aí para isso.
O negócio é que mãe tem mais criatividade, a gente acaba tendo que fazer umas adaptações para dar certo, desde que estabeleça que é uma prioridade. Conheço mãe que corre às onze da noite, ao meio dia, durante a aula de judo dos filhos...
Mas, mesmo sendo uma parte minha, sempre tentei envolver meu filho nas provas de corrida. Faço isso com a minha enteada, Júlia, também. Acho que é uma maneira de eles não se sentirem excluídos, já que é um lazer a parte da prova. Treino é meu, é o que faz a diferença, e prova é o prêmio.
Nas provas da Track and Field isso é até estimulado. Eles oferecem espaço kids, e inclusive ficam com as crianças (com monitoras) durante as provas, facilitando a vida dos pais e mães. De quebra, as crianças ganham a camiseta da prova, igual da da mamãe. O Arthur tem várias, e tem também a camiseta do grupo de corrida, e adora, se sente suuuper incluído. No Mountain Do também tem um espaço com brinquedos, mas precisa de alguém para ficar com eles.
Quando vou arrumá-lo para alguma festa, em muitas ocasiões ele pede para colocar a camiseta da "currida", porque ele acha linda.
Como as corridas costumam ser cedo, é comum eu voltar e ele ainda estar de pijama recém-acordado.
Aliás, ele sempre acorda pelas 07h, menos quando eu tenho prova de corrida, que tenho que acordar cedão. Nesses dias ele acorda às oito e meia, nove horas, dando uma bela folga para o pai... invejinha.
Ao contrário do que possa parecer, no final de semana acho mais fácil sair para correr, porque tenho um super marido parceiro que fica com o Arthur para eu ir treinar, e porque eu sei que vou ter o resto do dia para ficar com ele. E quando corro mais no final do dia no domingo, podemos ir para o Parque Ramiro todos juntos, faço um treino menor (porque a vida é assim), para ainda aproveitar o parque com ele e fazer piquenique no final. O negócio é que ele adora um isotônico, já experimentou whey, gosta dos shakes com aveia, frutas... tenho que cuidar, senão ele quer tudo o que eu consumo para treinar.
Desde que ele é bem pequeno entrego as medalhas que ganho para ele, explicando como eu ganhei, que deu trabalho mas que foi bom, e que eu terminei a corrida.
Lembro quando cheguei em casa com a primeira medalha gigante do Beto Carrero, ele passou o dia inteiro com ela pendurada pesando no pescoço.
Hoje em dia ele não dá tanta importância, só quando é uma medalha diferente. O negócio dele agora são os "toféus". Ele pensa, inclusive, que é minha obrigação ganhar troféu em toda prova de corrida. Eu saio e digo sempre onde vou correr, como vai ser, e digo que vou trazer a medalha para ele. Agora ele fala: "e o 'toféu' também, né?". Nem sempre dá certo, mas realmente ele já me deu bastante sorte, o ano passado foi cheio de troféus.
Delícia mesmo é chegar no final da prova e ele estar lá me esperando, cheio de amor. Claro que ele quer um colo que não estou muito a fim de dar, mas ele mesmo agora dispensa quando vê como estou: "ui, mamãe, voce está suada". Beleza, ele troca facilmente pela banana, água, e o que mais a organização da prova oferecer.
No ano passado, o Péricles levou ele no final da Volta à Ilha. A Júlia ja tinha participado durante o dia, me esperou em alguns pontos. Ela, que também tem camiseta da equipe, entrou junto no tapete vermelho e ficou lá festando, tomando caldinho de feijão, dançou e tudo.
O Arthur se assustou com o barulho, chorou... Mas este ano tentamos de novo, o Péricles levou ele em alguns lugares também para me ver correr, e eles estavam lá me esperando no final, na chegada, e eu correndo o último trecho. Desta vez eu tinha conversado com ele antes, e foi incrível, ele foi querido demais.
Sempre que ele vai e ganho troféu, ele sobe ao pódio para receber comigo. No Bela Vista, ano passado, demorou, ele já estava cansado e ficou meio choroso, fez cara feia na foto.
Mas já se acostumou, agora eu entrego o troféu para ele, que levanta sorridente e posa para a fotografia, super entrosado com o esquema, e a plateia vai ao delírio.
E a parte de que era uma coisa só minha? Fica para o momento de correr, precisamente esse. O que está em torno já é um momento nosso, e sei que ele fica orgulhoso da mamãe ser corredora, conta para os amigos da escola. De quebra acho que estou dando um bom estímulo para ele praticar esporte com alegria.
Então, mamães que correm, continuem correndo, os filhos gostam de exibir suas mães atletas, valorizam a mãe ter um tempo só seu, e, com isso, valorizam ainda mais o tempo que estão juntos. Não se cobrem, mas tenham objetivos, e mostrem aos filhos como disciplina e corrida estão ligadas.
Amanhã temos um treino de Dia das Mães, e sei que tem gente que vai achar um absurdo ir treinar num dia desses. Já eu que sou mãe, quero ter um dia sensacional, como diz meu filho, e começar correndo é uma ótima maneira de comemorar e de me sentir especial.
E parabéns a todas as mães que conseguem correr. E aquelas que querem, venham, uma ajuda a outra, e dá certo!!

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