Quando a viagem não é para correr

É, adoro viajar para correr. Mas o que eu adoro mesmo é viajar. E a viagem a Roma foi de estudos, duas semanas de curso de direito do trabalho, em um turno, com visitas institucionais no contraturno em vários dias. A última semana, de passeio, com o Arthur, certamente mais off do que as outras.
Mas eu gosto de correr. Muito. Então não é um sacrifício buscar maneiras de manter um mínimo de treinos em uma viagem. Teve gente me dizendo: "credo, não precisa correr esses dias, não vai perder todo o treino do ano por causa de duas semanas, relaxa". Aí é que está. Não, não preciso. Corro porque gosto. Correr me relaxa, além de ser uma maneira ótima de conhecer as cidades. Porque não corro do mesmo jeito que corro na minha cidade ou em Floripa, ou no Ibirapuera. Corro olhando, apreciando, eu paro, tiro foto, faço vídeo, é bem lúdico. E na real, tendo um objetivo definido, faz muita diferença ficar três semanas sem correr. Para pior.
Primeira parte: mala. Levei um Saucony que só uso para correr, o Freedom, e o Pegasus 34, que serve para correr e para andar por tudo. Esse, que já estava ficando velho, voltou no talo, um caco, coitado. Também levei mais um pureboost Adidas que tenho que é de passeio mesmo, que eu usava para ir para a aula, para turistar, para tudo, porque só uso tênis em viagem. Inclusive comprei um fofíssimo de passeio da Benneton, para usar sem meia, perfeito para a ocasião (e para as próximas), por um precinho camarada na promoção. Levei diversos pares de meia, que eu lavava e pendurava no banheiro, porque essa é a vida do viajante. O tênis do dia, no final dele,  ficava do lado de fora do quarto do hotel, que no meu caso era tipo um jardim interno, perfeito. 
aqui o jardim interno do hotel.

Levei muitos tops, de corrida e de academia, porque sabia que ia usar com as roupas normais também, e foi o que aconteceu, porque são mais confortáveis do que sutiã, e tudo bem se aparecer, né? Também lavava, para render. Short de correr, levei dois, ambos Vivian Bogus 1500 bolsos porque tinha que levar o que iria numa bolsa. Claro que também lavei. O meu banheiro virou varal, sim. E são roupas que não ocupam espaço na mala e são leves (tirando os shorts da Vivi), por isso fica bem mais fácil. E ainda desfilei de treino coletivo Corra com Respeito com a nossa regata lindaaaaaaa. 


Sim, eu corri até a fontana de trevi! Eu e o senhor feliz atrás de mim (não, ele acho que não correu)

Eu fiz umas pesquisas para descobrir lugares para correr em Roma. Villa Borghese, o maior parque no centro da cidade, é lindo, muita gente corre lá, arborizado, tem sombra, fontes de água potável para a gente reabastecer a garrafinha (geladinha, gente), espaço, muito espaço...bom, quem viu meus stories sabe do que falo. Mas, do hotel até lá eram mais de 3km, que no primeiro dia fui de bonde (o tram), mas depois achei melhor ir correndo direto, com o celular com mapa gps na mão, e um caminho o mais reto possível. Com isso eu garantia quase 7km de treino (ida e volta) e lá dentro tudo era lucro, além de me embrenhar em lugares que andando eu demoraria muito mais. Foi correndo que encontrei o jardim zoológico, ruas lindas, restaurantes que voltei, caminhos interessantes, e já almoçava na volta.
Na frente da Galleria Borghese, durante o treino...

Roma não tem nada plano. A cidade é um sobe e desce, nem sempre com boas calçadas, e o próprio parque é cheio de aclives e declives. Isso, mais o calor senegalês (ou romano), tornou todos os treinos  punk, o que achei ótimo, porque eu sabia que cada treino poderia ser o último da semana, ou da viagem...exigia acordar mais cedo, ter tempo, inclusive para correr o risco de me perder, o que devo confessar, aconteceu mais de uma vez. 
Eu resolvi arriscar uma dica de um blog, de um lugar para correr, mais ou menos próximo à Villa Borghese, a Vila Albani. Não sei se houve uma mudança ou foi um mal entendido, mas o local é uma residência particular, enorme o terreno, mas não podia entrar. Demorei para chegar lá, dei a volta inteira ao redor da propriedade, e não tinha entrada para o público. Além de tudo, me perdi, o sinal do gps no mapa desapareceu, não voltava de jeito nenhum, e eu numa região que não conhecia. Foi beeeeeem ruim.
Daí corri até uma avenida, e pedi informação para um senhor de terno, gravata, numa bike. Ele me deu a direção, e fui indo. Uma hora fiquei super em dúvida numa bifurcação, e surgiu ele do meu lado. Estava me seguindo para ver se dava certo...e assim voltei para meu lugar de segurança. Porque a gente tem sempre anjos ao nosso redor. Ficou a lição: turista tem que ir onde é conhecido e certo mesmo, especialmente na minha situação. Falar italiano ajudou. Claro que eu tinha um pouco de dinheiro, e cópia do meu passaporte comigo, mas não foi uma boa experiência.
Ah, sim, correr fora do país: sempre, sempre leve dinheiro e cópia do passaporte, a gente não sabe o que pode acontecer. Se tiver que pegar um metrô, taxi, for abordada, passar mal...
Assim corri nos dias possíveis, sempre de manhã, porque no final da tarde você corre o risco de se perder e anoitecer, e aí fica tudo mais difícil. Fora que é muito, muito quente ao longo do dia, não anima. 
Passei um final de semana em Florença, e lá é diferente. Acordei no domingo cedinho, e fui correr na beira do Rio Arno. Eu e muita gente. Me senti bem mais em casa, segura em todos os sentidos. Havia uma quantidade enorme de corredores, fiz o que eles fazem, que é correr na beira do rio, cedo, e aí não tem como se perder. Eu memorizei a ponte que era a próxima do hotel, e dali eu podia ir longe, voltar e ir no sentido contrário, corri 10km porque não dava tempo de correr mais, mas a vontade era de ir muito além! Estava tão calor que o top e o short secaram enquanto eu me arrumava para ir embora do hotel, deixei numa sacadinha com sol. 
Na volta a Roma, na semana seguinte, ainda fiz dois treinos na mesma Villa Borghese. Sei que existem outros lugares, mas são mais afastados da cidade, não daria tempo, e o negócio é que a viagem não era de corrida, o corre era aproveitamento, fator de felicidade e não de estresse.
Depois que o Arthur chegou, acabou esse negócio de correr, porque não tinha como deixá-lo sozinho no hotel ou outro lugar, e aí relaxei, já tinha me programado para ficar a semana sem correr mesmo, e não me estressei por isso, especialmente porque foi planejado, aí não tem frustração.
Andei. E como andei. Claro que é diferente, mas cheguei a fazer 25km em um dia, porque eu fazia TUDO a pé até o Arthur chegar. No quarto, ainda fazia uns abdominais e exercícios de fortalecimento do Corrida Perfeita, coo agachamento pega-pé, afundo, flexão, triceps na cadeira, coisas que a gente pode fazer em qualquer lugar. Sei que tem gente que acha loucura, mas é a minha loucura, e eu sei o preço que pago quando fico muito tempo sem os exercícios. Depois eu ia para a aula, comia, bebia vinho todos os dias, no almoço e no jantar (geralmente uma taça em cada, como os italianos fazem), sem nenhum dilema moral. Com o calor que fazia, eu não conseguia comer demais, é verdade, e comi muitos legumes, berinjela quase saindo pelos ouvidos, abobrinha, alcachofra, porque isso tinha nos lugares que eu almoçava, que eram mais locais (no bairro universitário, comendo como os romanos). O "pré-treino" era o bolachão de arroz ou de milho do café da manhã do hotel, única opção sem gluten, com pasta de amendoim (tinha também), ou um ovo cozido, e o pós treino era o almoço, ué. Daí eu até procurava um lugar com proteína animal, no sistema de menu fixo do dia por um preço bom. 
Em resumo, foi uma experiência diferente ficar todos esses dias praticamente na mesma cidade (salvo a ida para Florença, o lugar mais lindo do mundo), buscando uma forma de manter o treino, de leve. Combinei com Diogo que não teria planilha, eu ia informando o que conseguia fazer. A verdade é que correndo a gente chega mais rápido nos lugares, e eu aproveitei isso também. Estava tão calor que ficar suada não era exatamente um problema, o ruim era ficar com a roupa de corrida no restaurante, ninguém mais fazia isso, mas também ninguém mais me conhecia hahahaha.
Claro que se eu tivesse feito aquelas viagens de cinco países em quinze dias teria sido tudo diferente, porque o tempo é contado, e aí você tem que ser muito forte mesmo. Em Washington, quando fui em 2013, estava um frio de lascar, tinha curso o dia todo, e um belo dia fugi para conseguir conhecer o memorial Lincoln, o que só foi possível fazer correndo, com uma colega, ao longo do parque. Super valeu. E foi o treino da ocasião, além de um na esteira do hotel. A gente faz o que dá, como dá, e de uma maneira que traga felicidade, ao final e no percurso. Viajar é trocar de alma, e levar a corrida nessa aventura é uma delícia. 
Quem mais teve a experiência de procurar lugares para correr em outra cidade, outro país? Conta para mim como foi, se teve dificuldades em encontrar lugares, se teve roubada... 
Agora voltamos à programação normal, que é treino forte para recuperar e muita coisa interessante pela frente. Bora correr?







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ficar velha x envelhecer - nós e Madonna

Desculpa qualquer coisa

Histórias não relacionadas à corrida: Dias de Sol