Desculpa qualquer coisa


 

Voltei a treinar musculação em uma academia, paga, com outros humanos. Desde 2020 eu estava treinando na academia do prédio, que eu estava considerando suficiente para as circunstâncias, considerando que eu tenho uma consultoria de treino específico, com planilha todos os meses, que tem a opção "treino em casa". Mas não, não é a mesma coisa do que treinar em academia, por mais que eu tenha tentado me enganar nesse tempo - embora em 2020 e 2021 tenha sido uma decisão não frequentar espaços públicos que fossem por mera conveniência e não necessidade.

E eu gosto de fazer musculação, sou daquelas estranhas que nunca enjoou, em mais de 25 anos puxando ferro. Gosto de fazer força, gosto dos equipamentos, e sei da importância de um treino de força real e bem feito para a minha autonomia, longevidade, saúde, disposição, e sim, estética. Nada em mim é de graça. Quando eu engordo é minha responsabilidade, quando eu emagreço, quando eu fico mais ou menos forte, também. Tenho alguma facilidade para adquirir massa muscular, mas faço por merecer o que vem depois. 

E quem gosta de fazer musculação não vai se acostumar com esses exercícios tão limitados de academia de prédio, ou ainda, de casa. Eu tenho colchonete, halteres, caneleira, kettlelbel, de vários kg, elásticos, faixas, tudo o que se possa imaginar e que ocupe pouco espaço. Jane Fonda. E sou disciplinada, ou seja, eu mantenho facilmente uma rotina de exercícios. Mas, de novo, não é a mesma coisa, e eu estava ficando desanimada pela limitação de peso que eu podia pegar sem medo de me machucar, porque era tudo sozinha de verdade, de modo que a evolução não é igual, e preciso fazer cada vez mais esforço para alcançar os mesmos resultados (hello, hormônios!). 

E nessa de fazer aula de remo indoor (vide post anterior), passei a fazer também musculação na academia, ai que saudades que eu estava, que delícia que é. Mas eu devo parecer uma pessoa bem desagradável lá, e não queria passar essa impressão, mas também não quero mudar. hahahaha. Espero que não me achem metida ou nojentinha, só fechada mesmo, porque, mais do que nunca na vida, eu só vou lá para fazer meu treino. Sem falar com ninguém. Até fotos eu tenho vergonha de tirar, tinha muito mais carão quando era só eu no prédio. E sim, tento ir em horários mais vazios, de princesa, porque meu trabalho também pode ocupar horários diferentes. 

Nunca fui de fazer amizade na academia, nem quando fazia aulas coletivas, com professor, sala cheia, risadas, música alta. Eu via meninas saindo e indo tomar um suco, contando novidades na chegada, e eu nem sabia o nome das pessoas. Salvo quando fiz aulas de bike indoor, numa turma em que já conhecia todo mundo porque eram também da corrida, eu sou a pessoa que chega, dá bom dia, treina, e vai embora. 

Depois que me mudei para Itajaí, também ficou mais difícil correr com a turma da assessoria em BC. eu já ia pouco, pelos horários, agora praticamente inviabilizou. E correr já sou tão acostumada a ir sozinha, é gostosinho...

Só que agora fico pensando que talvez eu esteja pior, porque perdi traquejo social na pandemia. Mais alguém? 

Pela covid propriamente dita, sou uma abençoada, perdi pouco comparado ao que tantas pessoas e famílias perderam. Embora positivada duas vezes de certeza (desconfio de uma terceira não testada), não tive sintomas graves, pelo contrário, fiquei pior nas 24 horas pós  (primeira) dose da vacina Janssen do que de covid. Mas tive sequelas desse negócio medonho. Perdi parte do olfato (que não voltou), muito cabelo (especialmente na primeira vez, mas ele voltou, com ajuda externa), parte da memória (essa estou procurando até hoje, agora já acho que está juntando com a idade), fôlego - capacidade respiratória (que também não sei se é ainda covid ou redução de treino, ou os dois).

Nem todas as perdas foram ruins, no meu caso. Perdi a vergonha  de me arriscar em algo novo e criei diversos cursos meus de direito do trabalho online e escrevi meu livro em 2021. 

Mas o que eu mais percebo diferença é no traquejo social. Eu me transformei numa pessoa que tem que reunir muita determinação para sair de casa para algum lugar com pessoas e que envolve conversar.  Assistir curso, missa, dar aula, beleza. E vejam, não é medo de multidão, se for para ir a um show lotado e na chuva, eu vou, feliz da vida, mas em uma festa com muita gente para socializar, se eu for, procuro um lugar com música alta para dançar e quando alguém falar comigo eu poder gritar "hem?", e a pessoa desistir de mim.

Recusei convites gentilmente, outros eu aceitei sem convicção, para depois me arrepender amargamente, até que no dia do evento eu não conseguia nem me imaginar a caminho do local. Cheguei a ter dor de cabeça, dor de barriga (de verdade), mas também aceitar compromisso e depois perceber que tinha que preparar aula, estudar, escrever sentença. Ou eu fui conduzindo tudo para tornar inviável minha ida. 

Mas aí, você que me conhece, diz: como assim, mas você fala para caramba! Sim, eu falo. Como uma boa Limongi, eu falo muito. Meu pai também falava pacas, mas era mais devagar, então parecia que falava menos. Os Limongi falam muito, um por cima do outro, loucamente. Mas é o seguinte: eu falo muito COM QUEM eu conheço, ou PARA QUEM eu NÃO conheço. Aula, palestra, ou pequenos grupos. Com quem eu não conheço, eu sou simpática, sorridente, educada (obrigada, mãe), e contida. 

Algo que me dá um nervoso tremendo é ver alguém que eu deveria (re)conhecer, e não lembro de onde, muito menos o nome (aquela memória subtraída, sabem?). E em locais como academia, eu cumprimento, falo do tempo,  mas não sei dar andamento a uma conversa. Outro dia uma pessoa olhou minha tattoo e falou: então você corre? e eu: sim. cri cri cri. Eu não era desse jeito, eu emendava tópicos. Perdi o jeito. 

Engraçado que para o trabalho isso não acontece. Eu gosto de ir até a Vara do Trabalho. Acho que lá estão pessoas que eu já conheço  me conhecem, e são poucos que vão. As audiências são de manhã, vai a linda  que me serve café a manhã toda, o diretor de secretaria alternando com a assistente de direção, e  às vezes a assistente de audiência. Pensando bem, não é muita gente para fins de socialização. Outro dia fui lá trabalhar à tarde, achei tudo tão cheio, tão barulhento o corredor, cumprimentei várias pessoas, saí correndo. 

Claro que dar aula presencial, falar com alunas, alunos, plateia de palestra, leitoras e leitores do meu livro, eu adoro, mas é a parte social da coisa toda que eu tenho que retomar, porque eu gostava também. Eu acho. 

Então tudo isso aqui é para dizer que estou  me esforçando, e quando estou com pessoas queridas eu fico feliz, mas em algum tempo eu sinto uma certa angústia se for muita gente, não é pessoal com ninguém, não são vocês, sou eu, então desculpem qualquer coisa e não desistam de mim, eu vou voltar. Eu acho. 








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