Rápida como Berlim, Fria como NY, Bonita como Floripa, mas não plana...

Quando digo que sou de Florianopolis, uma amiga carioca (que acho que não lê o blog) diz: "pára com isso, amiga, que você é paulixxxxta". Então vamos esclarecer. Eu nasci em São Paulo, capital. Mas não sou parte da estatística que escolheu Florianópolis, etc. Meus pais são de Santa Catarina. Meu pai nasceu em Blumenau, mas é de Indaial (lá não tinha maternidade em funcionamento), e foi para Florianópolis antes dos 12 anos para estudar. Minha mãe é mané da ilha em grau máximo, sotaque, jeito, culinária. Mas meus pais são professores, e foram fazer mestrado em São Paulo. Nessa circunstância eu nasci. E com cinco meses retornamos, os três, a Floripa. Então, com todo o respeito aos conterrâneos em tese, não sou paulista. Sou florianopolitana de alma, me criei com tainha frita e pirão d'água, bolinho frito das sobras (arroz, espinafre, batata, abóbora, vagem...)...
Criada na ilha, ia pouco ao continente quando criança. Essa beiramar continental, para mim, ainda é uma super novidade, uma coisa incrível, porque sou do tempo que o balneário do Estreito não tinha quase nada. E lá é lindo demais. Inclusive, devo dizer que é um dos lugares com a vista mais incrível da ilha. 
Esta ideia de fazer uma prova que tenha a largada lá, com trajeto que inclui as duas pontes transitáveis, sinceramente, é genial. E o mais legal é que se você faz 10km já atravessa as pontes. A Pedro Ivo na ida, e Colombo Salles na volta, no mesmo sentido dos carros. Claro que na volta você vê melhor a  Hercílio Luz, e se sente em um cartão postal. 
Imagino que isso que deve atrair tanta, tanta gente para essa prova. Na minha opinião, a prova de asfalto mais bonita da região, talvez do Estado.
Bom, impressões gerais da prova: padrão O2, ou seja, inscrição tranquila, kit lindo e de qualidade, com a camiseta de manga comprida ótima, que, no meu caso, por ser do clube O2 (você também pode ser, é só assinar a revista), posso ter a camiseta personalizada. Os kits foram entregues no hotel Majestic, e embora tivesse muita gente, foi tudo rápido e eficiente, com várias pessoas para atender, todas felizes. 
Tinha a previsão do tempo para alegrar a gente...sqn. Semana de frio, muito muito frio em Santa Catarina, muitos memes e piadinhas sobre o assunto. E a previsão era de 5 graus no domingo em Floripa. Era o frio de correr no exterior, praticamente. Em NY corri com 2 graus, mas era NY, a gente viaja até lá, investe muito, nem cogita não correr. Mas sair do quentinho da cama na casa da mãe, e dormindo com meu filho gostosinho...é vontade de correr mesmo. O segredo, como sempre, é não pensar muito. No meu caso, tinha a missão de entregar o chip e numero para o Mario, da Gamboa, que eu peguei. Ótimo. 
Passei a semana pensando se ia correr de calça ou short. Odeio correr de calça, meus movimentos ficam péssimos, mas sendo só 10km, confesso que fiquei com medo de não esquentar. Mas em NY, quando eu era mega mega mega amadora, não tinha calça para correr e fui de short, com toda aquela gente nórdica, alta, atlética, acostumada com o frio, ao meu lado, com calças tecnológicas que eu nem sabia que existiam. E ainda assim eu fui, e deu certo. Depois que eu senti meus pés, o que levou uns 3 km pelo menos. 
O treinador Diogo disse para ir de short, porque eu estava acostumada e ia esquentar. Simone disse para ir de calça para não congelar. Mas ela tem perna fina, a minha tem capinha de proteção.
Levei tudo para Floripa para ter opções. Naturalmente. Oba, chance de usar manguito de lã!!
Hoje eu valorizo a tecnologia das roupas, são bem importantes e auxiliam a nossa vida, tornam tudo mais confortável. Tenho bastante coisa para correr no frio, para não ficar triste quando preciso fazer isso. Inclusive um gorro que amo, porque tem um buraco para o rabo de cavalo.
O Diogo falou para eu usar o frio a meu favor. Realmente, é mais fácil correr no frio, a gente quer se aquecer, não fica derretendo, não cai a pressão, até os batimentos demoram mais para subir, e é possível uma performance sem tanto sofrimento. Mas me doi o frio, tenho frio no rosto, no ouvido, na cabeça, meus pulmões ardem e demoro para ter o ar necessário. 
Mas na hora da prova, a gente tem que contar com treino e adrenalina.
Usei uma baita estratégia para não sentir frio ao acordar. Dormi mega empacotada, com moletom e três cobertores. Deu certo: acordei suando, nem pensei em usar calça. Mas a meia de compressão, sem dúvida. Aliás, não deixo dizerem que tem efeito placebo. Para mim, pelo menos, a meia funciona, especialmente para subidas e recuperação. Se uso, não sinto a panturrilha no dia seguinte. Fora que, no inverno, esquenta. 
Fui de ursinha: tinha o top, camiseta de manga curta, manguito de lã, camiseta de manga comprida. Fui com calça de moletom por cima e um casaco corta vento, e as luvas. E o café. 
O plano era bom: chegar cedo, aquecer bastante, para esquentar as extremidades, levar as coisas para o guarda volumes e me dirigir, calmamente, à largada, no pelotão quênia (uhuuuu).
Vamos à vida real. 
Estrutura da cidade. Mais um evento esportivo. Atrai turistas de classe média a média alta, corredores que ficam em hoteis e comem em restaurantes, muitos vêm com a família porque é Floripa, mas  chegar na prova é uma aventura. 
Como fica interditada a beiramar norte, tem que ir pelo centro para atravessar a ponte, com trajetos não tão conhecidos para quem é de fora, e mal sinalizados. Os semáforos funcionavam normalmente, embora praticamente 90% do movimento de carros, no domingo de manhã, fosse para a largada da prova. Havia desvios sem qualquer orientação, e o transporte público era o de sempre. O de domingo, com seus horários matinais. Saí da casa da minha mãe às 6h40min, e tinha fila na rua Bocaiúva até a ponte. Largada às 7h30min.
 Ai ai...estava sozinha, eu e meu café no copo térmico.  Chegando no estreito, aquela fila imensa porque o povo já estava estacionando. Longe, muito longe da largada, continuei. Mas demorou para ter vaga. O resumo da ópera é que às 7h20min eu já tinha passado do ponto que entraria para a beiramar, e não tinha achado vaga ainda para estacionar. Quando finalmente consegui, parecia uma louca para ir até a largada a tempo. 
Não deu tempo nem de pensar: tirei casaco, calça, peguei as coisas do Mário, minha micro garrafinha, celular, para me comunicar com ele  e chave do carro. 
Aquecimento: correr como louca para chegar a tempo. Alongamento? desconheço. Multidão, e fui para o pelotão, mandando mensagem para o Mário, que estava estranhamente (para mim) calmo, dizendo que tudo bem se não desse para entregar. Como assim, tudo bem? Nada bem, eu tinha que entregar, senão ia ter que dar minha medalha para ele no final. Nem pensar. 
Nunca vi o pelotão tão cheio, a fiscalização era só de um dos lados e tinha gente pulando a cerca do outro. E eis que vi o Mario, do outro lado, corri mais ainda, e consegui entregar. Frio? que frio? Só sentia o nervoso com o alívio de chegar. Quando eu o vi, o locutor anunciava que faltavam dois minutos para a largada. 
E aí quando a gente começa, é bom demais. Nem vou falar de mim agora, vou falar do que vi. Vi a democracia da corrida, que as provas da O2 sempre proporcionam. Tem jovem, velho, gordinho, magrelo, iniciante, veterano...é maravilhoso. Ultrapassei e fui ultrapassada. Era 12 de junho, então havia casais, váááários casais correndo juntos, juntando as mãos para fazer coração para os fotógrafos (eu não curto, mas aprendi a respeitar). Corredores buscando superação, outros querendo terminar, outros só para diversão...gente tirando foto da ponte Hercílio Luz, gente focada no trajeto. 
Não é plano. Se Chicago for assim, não é plana. Para quem faz os 21km, o percentual plano da prova é grande, realmente. Mas para quem faz os 10km, não é bem assim. Ponte não é plana!!!! E a gente sobe uma, desce, sobe o elevado, desce, sobe a outra ponte, desce. Com muitas curvas, que também mudam a corrida. Isso não desmerece a prova, mas não dá para chamar de plana. Plana é a que larga na beiramar norte. 
Essa é, então, a prova das fotos bonitas, porque com o visual do fundo, e o dia espetacular de sol que fez, não dava para ficar feio. Um céu azul que parece pintura, com o mar paradinho, nem acreditei que não tinha vento com aquele frio, mas não tinha. Em Floripa, que super!!
Hidratação mais do que suficiente em todos os pontos, só não curti o isotônico em pó entregue com uma garrafinha de água no final. Não usei. 
Fiz uma boa prova, ainda podia ter forçado mais, estou chegando no que quero,  aproveitei bem.
Depois que cheguei, fui para o espaço da O2, que fica em frente à chegada. Adoro ficar lá para esperar os primeiros colocados da meia. Adoro ver aquele pessoal de passadas incríveis chegando de 21km, apenas alguns minutos depois de eu chegar, correndo 11km a menos do que eles. 
Mas desta vez eu também fiquei observando a chegada dos 10km e de algumas pessoas ainda dos 5km. Muitas estavam tão felizes quanto os primeiros colocados da meia maratona, inclusive chegando com eles. Era evidente a sensação de vitória daqueles corredores. A alegria de completar, de chegar com amigos (muitos chegando com amigos), de chegar com seu amor, abraçados, em um momento que é só do corredor. 
É o que falo sobre corrida. Não é solidão, é solitude. Você correu, sozinho ou com alguém, mas o sentimento na chegada, aquela endorfina que dá, é tudo seu, é a sua libertação, sua vitória. Numa alegria que não cabe na gente. E só entende quem corre. 
Bom, eu tive que ir logo embora, não pude ir ver as Divas que Correm nem esperar a Carol (que fez um tempaço) para finalmente nos conhecermos, porque deixei todos os meus agasalhos no carro, e o suor esfriou, pior parte. Pulei a celebração, o que me faz muita falta, porque se a chegada é individual, a comemoração com amigas não tem preço, Rita que me ensinou. É o complemento perfeito. 
E aí lá fui eu. Para onde mesmo? Eu não tinha a menor ideia de onde tinha deixado o carro. Larguei e saí correndo, não olhei nome de rua, nada. A única coisa que deu tempo foi olhar para trás e procurar uma referência,e vi uma igreja. Então, na volta, lá fui eu, buscando a igreja. O mais legal foi encontrar dois rapazes na mesma situação, os perdidos. Levei um tempinho, mas achei. 
E cheguei na casa da minha mãe com uma bela medalha e mais uma história de corrida para contar. Uma das boas. Descobri depois que tinha bastante gente conhecida na prova, mas eu não vi ninguém nessa minha correria. 
Adoro provas, por isso recomendo que todo corredor faça, especialmente as bem organizadas para iniciar. Lá a gente renova a motivação, junta as energias boas dos outros corredores e devolve...isso deve fazer um bem danado para o universo!












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